A saúde mental dos trabalhadores brasileiros enfrenta um cenário preocupante. Em 2024, o país registrou o maior número de afastamentos por transtornos mentais já contabilizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): foram 472 mil licenças, um salto de 68% em relação ao ano anterior. Em meio a esse contexto, a educação financeira começa a ganhar espaço nas estratégias corporativas como ferramenta de prevenção e cuidado com o bem-estar emocional dos colaboradores.
A relação entre dinheiro e saúde mental não é nova, mas tem se intensificado. Segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 51% da população afirma sentir alto nível de estresse por questões financeiras. Já uma pesquisa da fintech Onze, em parceria com a seguradora Icatu, revela que sete em cada dez brasileiros acreditam que a falta de dinheiro afeta diretamente sua saúde emocional. No ambiente de trabalho, os reflexos são evidentes: dados da PwC mostram que metade dos profissionais brasileiros considera que as preocupações financeiras comprometem sua produtividade.
Milve Inouye, gerente de People & Culture no ManpowerGroup Brasil, observa que os impactos das finanças pessoais vão muito além do saldo bancário. “Eles influenciam a maneira como as pessoas se relacionam, dormem, se alimentam e até como desempenham suas funções no trabalho”, afirma.
Segundo ela, o estresse financeiro pode se manifestar em queda de concentração, conflitos internos e desmotivação. “Quando o colaborador está preocupado com dívidas ou inseguro sobre as finanças, ele tende a se distrair com mais facilidade e perde parte da energia que deveria ser direcionada às suas entregas profissionais”.
Sendo assim, a educação financeira corporativa surge como uma resposta prática. Ao oferecer conhecimento e ferramentas para os colaboradores terem mais controle sobre o próprio dinheiro, as empresas contribuem para a construção de um ambiente mais equilibrado. “Com mais controle, vem também a sensação de segurança e tranquilidade, elementos fundamentais para a saúde mental”, explica Milve.
A adoção de programas voltados ao bem-estar financeiro tem se mostrado eficaz em diversos países. Conforme o Employee Benefit Research Institute (EBRI), iniciativas de educação financeira no ambiente corporativo procuram aumentar a produtividade e reduzir o absenteísmo. Empresas que investem nesse tipo de ação observam melhora em indicadores como engajamento, satisfação e retenção.
Milve destaca que os resultados são mais consistentes quando o tema é tratado estruturadamente. “Ao oferecer conteúdo sobre planejamento, reserva de emergência e uso consciente do crédito, a organização ajuda o colaborador a lidar melhor com as pressões financeiras e, indiretamente, melhora o clima e a performance das equipes”.
Ela aponta que um programa eficaz pode incluir ações simples, como:
- Diagnóstico inicial para entender o nível de estresse financeiro dos colaboradores;
 
- Workshops e palestras sobre orçamento, dívidas e planejamento;
 
- Acesso a consultorias financeiras com orientações personalizadas;
 
- Campanhas internas que ajudem a quebrar tabus sobre o tema;
 
- Avaliação contínua com indicadores de bem-estar e produtividade.
 
Para Milve, o cuidado com as finanças deve estar inserido em uma estratégia mais ampla de saúde mental corporativa. “Cuidar do colaborador integralmente é um desafio que envolve saúde emocional, física e financeira. Quando a empresa enxerga o indivíduo na totalidade, ela cria um ambiente mais saudável, produtivo e humano”. 
Ela também ressalta o papel preventivo da educação financeira. “Muitas vezes, o estresse começa com pequenas preocupações: uma conta atrasada, o medo de perder o emprego, a dificuldade de poupar. Com o tempo, essas preocupações se acumulam e podem evoluir para quadros mais sérios de ansiedade ou depressão. A educação financeira ajuda a quebrar esse ciclo”.
Além dos benefícios diretos à saúde mental, a especialista destaca que esse tipo de iniciativa reforça a cultura organizacional. “Quando o colaborador sente que a empresa se preocupa genuinamente com seu bem-estar, ele tende a criar uma relação de confiança e engajamento. Isso se reflete em menores índices de rotatividade e maior satisfação”.
Segundo Milve, não é necessário ter grandes orçamentos para começar. “Mesmo ações pontuais, como distribuir conteúdo educativo ou oferecer uma roda de conversa sobre finanças, já fazem diferença. O importante é que o tema esteja presente e seja tratado com naturalidade”, conclui.
Website: https://www.manpowergroup.com.br/sobre-nos/estudos/state-of-careers-2025
Fonte/Créditos: DINO
Créditos (Imagem de capa): Empresário usando uma calculadora
                
                                                                                    
                                                                            
                                                                                    
                                                                            
                    
                                                                            